Uma das realidades mais presentes nas consultas de Fisioterapia é a Dor e a incapacidade.
A dor define-se como uma experiência sensorial e emocional desagradável, associada a uma lesão tecidular real ou potencial, cuja descrição pode estar associada a uma lesão tecidular e a variáveis cognitivas ou emocionais, onde a dor é independente do dano tecidular. 1
A Dor assume variadas classificações, desde classificações ligadas à sua durabilidade, como relacionadas com as suas características. 1,2
A dor aguda é um sintoma limitado no tempo. A dor crónica (DC), ao persistir para além da cura da lesão que lhe deu origem, ou na impossibilidade de objetivação de lesão, deve ser encarada não como um sintoma mas antes como uma doença.1
Em Portugal, estima-se que a prevalência da Dor Crónica seja de 36,7%. 1
Existe muito desconhecimento no que toca ao tema da Dor, não só entre profissionais mas na população em geral. A especialidade mais procurada para resolução de quadros dolorosos é a Medicina Geral, o que por si só propicia o desenvolvimento de quadros crónicos de Dor e o ínicio de uma reabilitação tardia. Não existindo um primeiro contacto com profissionais especializados acaba por não existir uma boa disseminação de literacia neste âmbito.
A associação da Dor sempre a mecanismos de lesão e ao encaminhamento para exames imagiológicos leva a que a Dor esteja sempre associada a uma afeção dos tecidos e à ideia intrínseca que um dano muscular, articular, ligamentar está na base de toda a Dor que sentimos.
Contudo, sabemos hoje que a Dor é um fenómeno demasiado complexo e diferente de Nociceção.1,2
Nociceção diz respeito ao mecanismo pelo qual são detectados estímulos nocivos e são então transmitidos ao Sistema Nervoso Central, onde posteriormente são interpretados como Dor.1
A Dor aguda tem uma função de alerta e normalmente resolve-se, com a resolução do processo patológico. Em termos de durabilidade é considerado pelos autores que pode ter duração até 3 meses.2
Consideram-se crônicas as dores em que o sintoma ou conjunto de sintomas mantém-se além do tempo fisiológico de cicatrização de determinada lesão, ou, então, as dores que permanecem por mais de três meses continuamente. 2
Quando a dor aguda persiste por mais de três meses torna-se crónica e pode gerar mudanças complexas nas vias de nociceção tais como mudança na expressão de nociceptores, transmissores e canais iónicos ou mesmo mudanças ao nível do Sistema Nervoso Central. Resumidamente, o sistema fica altamente competente na transmissão de Dor e modifica-se nesse sentido. 2
Assim o tratamento da Dor é complexo e deve ser guiado por profissionais especializados. Para combater a plasticidade do SNC formada pela persistência do sintoma de Dor predomina uma ferramenta fundamental: a prescrição de Exercício. O exercício previne o aumento de Dor, chegando inclusive a minimizá-la. 2
Entre o tempo de espera por uma consulta de avaliação inicial e um primeiro contacto com o profissional de medicina geral, seguida de tempo de espera para a realização de um exame imagiológica que de seguida obriga a um tempo de espera para uma nova consulta de reavaliação e possível encaminhamento para outra especialidade, talvez já tenham passado 4 a 6 semanas. Um mês e meio andamos com Dor e incapacidade e ainda nem vistos por um profissional que efetuasse exames físicos e analisassem amplitudes, força, qualidade de movimentos, entre outros testes adicionais. Sabe-se hoje que a clínica se sobrepõe sempre a achados imagiológicos e que estes só devem ser realizados em complemento a uma avaliação física completa. Só complementando todos os dados é que os profissionais podem compreender se as alterações detectadas em imagem são relevantes no quadro clínico do utente.
Assim, independentemente de existir um processo de diagnóstico a decorrer, mais ou menos demorado, o acompanhamento em Fisioterapia é essencial e urgente, não devendo ser deixado para segundo plano.
1 https://www.researchgate.net/profile/Paulo-Reis-Pina/publication/367161262_MGF_Ciencia_Volume_6N1_junho_4_Artigo_de_Opiniao_O_controlo_da_dor_cronica_um_indicador_de_qualidade_dos_servicos_de_saude/links/63c40df1e922c50e9999db41/MGF-Ciencia-Volume-6N1-junho-4-Artigo-de-Opiniao-O-controlo-da-dor-cronica-um-indicador-de-qualidade-dos-servicos-de-saude.pdf
2 https://www.scielo.br/j/rbme/a/qQ6CdXkDcSpcv674YRPsNyH/?lang=pt
3 https://run.unl.pt/bitstream/10362/36288/1/TGI0147.pdf