Antes de uma criança começar a dizer as suas primeiras palavras, há todo um processo de desenvolvimento que precisa de acontecer.
A linguagem e a fala não surgem de forma isolada: resultam de várias etapas que se constroem umas sobre as outras, tal como os blocos de uma pirâmide. Se a base não estiver bem consolidada, o topo — ou seja, a fala propriamente dita — terá mais dificuldade em desenvolver-se com clareza e eficácia.
A chamada Pirâmide do Desenvolvimento da Comunicação é um modelo simples e visual que nos ajuda a compreender as principais etapas pelas quais a criança passa até conseguir comunicar verbalmente com sucesso. São cinco níveis, organizados de forma progressiva. Abaixo, explicamos cada um deles de forma clara.
O primeiro nível da pirâmide é a atenção, a escuta e a interação. Antes de falar, a criança precisa aprender a prestar atenção ao que acontece à sua volta, a escutar os sons e a focar-se nas pessoas com quem interage. Isto inclui manter o contacto visual, partilhar a atenção com outra pessoa e participar em pequenas interações, como responder a um sorriso ou imitar gestos. Esta é a fase em que a criança desenvolve a intenção de comunicar, ou seja, começa a querer estabelecer ligação com os outros, algo absolutamente essencial para que a linguagem se desenvolva.
O segundo nível é a compreensão da linguagem. Mesmo que ainda não fale, a criança começa a perceber o que lhe dizem: entende palavras, reconhece o seu nome, segue instruções simples e responde de forma adequada a perguntas ou rotinas. Entender bem é a base para conseguir expressar-se.
A terceira etapa da pirâmide é a expressão verbal. É aqui que a criança começa a usar palavras para comunicar: primeiro palavras soltas, depois frases curtas como “quero água” ou “mais pão”, e gradualmente constrói frases mais completas.
No quarto nível surge a articulação e a clareza da fala. Não basta falar, é importante que os outros compreendam o que está a ser dito. A criança precisa de aprender a produzir os sons da fala corretamente e de forma clara. Por exemplo, dizer “pato” em vez de “tato”. Esta capacidade desenvolve-se com o tempo e com o exemplo dos adultos que falam de forma correta e pausada.
Por fim, no topo da pirâmide está a competência social e comunicativa. Aqui, a criança já usa a linguagem de forma funcional para se relacionar com os outros: conversa, conta histórias, faz amigos, aprende a esperar a sua vez de falar e adapta a sua maneira de comunicar consoante a situação ou a pessoa com quem está.
Para apoiar cada uma destas etapas, existem estratégias simples que os adultos podem usar no dia a dia. Por exemplo, para desenvolver a atenção e a escuta, é importante desligar a televisão ou os dispositivos móveis durante as refeições, brincar cara a cara com a criança, cantar músicas infantis, contar histórias, responder aos gestos dela e usar expressões faciais ricas. Jogar ao “cu-cu” ou alternar turnos em brincadeiras simples são ótimas formas de treinar a interação.
Na fase da compreensão, usar imagens, apontar objetos e acompanhar o que se diz com gestos ajuda muito a criança a associar palavras a significados. Para estimular a expressão verbal, é fundamental repetir palavras com entusiasmo, mostrar contentamento quando a criança tenta comunicar e dar-lhe tempo para se expressar sem pressas.
Quando chega a fase da articulação, o melhor é falar de forma clara e pausada, oferecendo o modelo correto sem criticar. Se a criança disser “tato” em vez de “pato”, por exemplo, o adulto pode repetir a palavra certa com naturalidade: “Sim, é um pato! Um pato amarelo!”
Para desenvolver a competência social e comunicativa, os jogos de turnos são excelentes: esperar a vez, responder quando se é chamado, fazer perguntas e ouvir as respostas. Tudo isto ensina a criança a comunicar com respeito pelo outro.
É importante ter em conta que cada criança segue o seu próprio percurso de desenvolvimento, influenciado por vários fatores. O mais relevante é garantir um ambiente diário rico em interação, afeto e oportunidades de comunicação.
Enquanto adultos, podemos apoiar muito este processo ao responder às iniciativas comunicativas da criança, falar sobre o que está a acontecer à sua volta, dar tempo para que se expresse e reforçar os seus progressos com atenção e entusiasmo.
Sempre que surjam dúvidas sobre o ritmo ou a qualidade do desenvolvimento da fala, é aconselhável falar com o pediatra ou consultar um terapeuta da fala. A avaliação e, se necessário, a intervenção precoce podem ter um impacto muito positivo no percurso comunicativo da criança!

